A “ligação muda” deixou de ser só incômodo: criminosos usam segundos da sua voz para treinar sistemas de inteligência artificial e clonar seu timbre. Depois, ligam para familiares ou se passam por empresas e bancos para arrancar dinheiro e dados. Órgãos públicos no Brasil já fizeram alertas recentes — inclusive no Rio de Janeiro — sobre golpes que usam gravação/manipulação de voz em chamadas telefônicas.

Como o crime acontece (passo a passo)

O roteiro é simples e eficaz: (1) você atende uma chamada silenciosa ou com perguntas neutras (“está me ouvindo?”); (2) ao responder “alô”, “sim” ou “quem fala?”, o golpista captura amostras de voz; (3) com essas amostras, ele usa ferramentas de IA para gerar um clone; (4) em seguida, aplica extorsão/estelionato — por exemplo, simulando um parente em emergência (“sequestro virtual”) ou fingindo ser do banco. Guias técnicos de segurança descrevem esse fluxo e recomendam não interagir e encerrar a chamada.

Por que funciona tão bem?

Bastam poucos segundos para uma clonagem convincente — e golpes com voz clonada têm potencial de atingir milhões de pessoas, segundo alerta setorial divulgado pela imprensa internacional. A combinação de urgência emocional, familiaridade da voz e engenharia social reduz o senso crítico da vítima. Autoridades e especialistas apontam que a popularização de ferramentas de IA torna o golpe barato e escalável.

O que fazer ao receber uma ligação muda

Regra de ouro: não fale nada e desligue. Se a ligação alegar ser de familiar em emergência ou de uma instituição, valide por um canal independente (ligando para o número salvo do contato, ou para o telefone oficial do banco/órgão), e combine uma “palavra de segurança” com a família para verificar identidade em situações de estresse. Essas são práticas recomendadas por autoridades e por cartilhas de segurança.

Prevenção: hábitos que reduzem seu risco

Fale menos com números desconhecidos, evite publicar áudios/vídeos públicos com sua voz (ou restrinja a privacidade das postagens), desconfie de pedidos de dinheiro/dados por telefone e nunca informe códigos de autenticação, senhas ou tokens recebidos por SMS/app. Sempre encerre a chamada e contate a empresa pelo número oficial. Materiais de segurança internacionais e nacionais apontam essas medidas como as mais eficazes contra golpes com voz clonada.

Configurações úteis no celular (5 minutos que valem ouro)

No iPhone, ative Silenciar Chamadores Desconhecidos e/ou recursos de triagem de chamadas em Ajustes ▸ Telefone/FaceTime. No Android (app Telefone do Google), ligue Identificação de chamadas e proteção contra spam e, quando disponível, o Filtro de chamadas. No WhatsApp, ative Silenciar ligações de números desconhecidos em Configurações ▸ Privacidade ▸ Chamadas. Essas funções reduzem o contato inicial e ajudam a conter a “captura de voz”.

Apps e recursos complementares

Identificadores/bloqueadores de chamadas (ex.: Telefone do Google, com ID e filtro de spam) e recursos de chamadas ao vivo (transcrição/triagem) ajudam a ver quem chama antes de atender, sem expor sua voz. Se preferir apps de terceiros, leia a política de privacidade e não forneça acesso desnecessário aos seus dados.

Se você (ou alguém próximo) caiu no golpe

Colete evidências (número chamador, prints, áudios), avise imediatamente o banco e registre boletim de ocorrência. Para reduzir ligações indesejadas “legítimas”, cadastre-se no Não Me Perturbe e conheça as iniciativas da Anatel contra chamadas abusivas (incluindo consulta “Qual Empresa Me Ligou”). Esses canais não bloqueiam criminosos, mas diminuem ruído e ajudam a rastrear empresas abusivas.

E no âmbito penal, o que pode estar por trás

A depender do roteiro, os fatos podem configurar estelionato (obter vantagem induzindo erro), extorsão (exigir vantagem com grave ameaça), falsa identidade e até associação criminosa — avaliação que cabe à autoridade policial e ao Judiciário, caso a caso. Relatos de “sequestro virtual” com voz clonada reforçam a gravidade e a necessidade de registrar ocorrência.

Para empresas e órgãos públicos

Implemente validação fora de banda (call back para números oficiais), duplo controle para liberações financeiras e treinos de resposta a vishing/deepfakes de voz. Campanhas internas devem repetir o mantra: “desligue e valide”. Alertas recentes de segurança — no Brasil e no exterior — indicam que a fraude com IA é um risco transversal a times financeiros, atendimento e liderança.


Checklist rápido

  1. Desligue ligações mudas; 2) Valide por outro canal; 3) Combine palavra de segurança com família/equipe; 4) Ative filtros no iPhone/Android/WhatsApp; 5) Nunca compartilhe códigos/senhas; 6) Se cair, acione banco, BO e registre evidências; 7) Cadastre-se no Não Me Perturbe e acompanhe as medidas da Anatel para combater chamadas abusivas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *